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Nos idos de 1996, a Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino aluga o prédio de nº 400 localizado à Av. Santa Catarina com a finalidade de ali implantar um de seus terreiros. Antes da locação realizada pela instituição passaram por lá dois terreiros de umbanda, sendo um deles do falecido Roberto Getúlio de Barros, Roberto Guarantã, como ficou conhecido. O que ganha relevância na história de Pai Rivas, pois o mesmo, no início de sua adolescência, frequentara as giras de Roberto Guarantã, onde incorporou o caboclo Urubatão da Guia. Logo, o local tinha vínculos íntimos com a trajetória do fundador da Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino.
A OICD e questões socioculturais
O modus operandi das religiões afro-brasileiras rompe com a ideia de uma construção pontual no tempo e com um marco único de origem. As religiões afro-brasileiras, considerando sua formação multicultural e o surgimento decentralizado das diversas escolas pelo Brasil, desenvolveram uma característica policêntrica.
Para que possamos melhor compreender a característica policêntrica será necessário que discorramos sobre o conceito de escola (cunhado e desenvolvido na obra Escolas das religiões afro-brasileiras: tradição oral e diversidade. São Paulo: Arché Editora, 2012) desenvolvido por F. Rivas Neto, sacerdote e fundador da Faculdade de Teologia Umbandista (FTU). ele se preocupou em esclarecer a diversidade das religiões afro-brasileiras e define que as escolas são as várias formas de transmissão calcadas em uma epistemologia, um método e uma ética próprios. Apresentam uma multiplicidade de ritos e formas de transmissão do conhecimento (ritos de fundamentos).
As escolas, por sua vez, são o resultado da confluência das três matrizes: indo-europeia, africana e americana na formação do Brasil. Devemos considerar que nosso país é um país-continente e recebeu em diferentes proporções as etnias destas três matrizes, em locais e épocas distintos, o que veio a configurar características muito específicas para cada região do país.
Esta formação policêntrica acarretou uma pulverização do poder, o que viabilizou e viabiliza que cada escola construísse e construa sua epistemologia. A construção epistemológica ocorre segundo a reorganização e ressignificação dos bens simbólicos e saberes a que cada região ou grupo foi exposto. As escolas das religiões afro-brasileiras surgiram em épocas e lugares distintos, com pessoas distintas. Assim, não há característica epistemológica homogeneizadora, no que pese possuírem bases comuns como transe, música, dança e outros elementos rito-litúrgicos.
F. Rivas Neto propõe um diagrama da interação assimétrica destas matrizes e remete a uma influência múltipla num jogo de combinações específicas. Estas combinações específicas do conhecimento transmitido por estas matrizes culminaram em escolas mais influenciadas, por exemplo, pelo saber europeu cristão, indígena e banto. Dentre elas, a umbanda branca, umbanda omolocô, pajelança, candomblé angola, jurema (catimbó) e a encantaria.
Nestas escolas veremos uma maior ou menor influência das três matrizes, mas encontraremos a presença de elementos ligados a todas elas nos ritos de fundamentos (ritos de transmissão), porém observaremos a forte influência indígena e banto.
Assim, vemos, por exemplo, a influência jeje-nago na formação do candomblé, tambor de mina, xangô do nordeste e batuque no sul. Nestas escolas encontramos, além dos elementos jeje-nagô, a influência católica em menor proporção. Os ritos de fundamento (ritos de transmissão) estão assentados na cultura jeje-nagô.
O que é uma aparente desorganização para a mente cartesiana é, para as religiões afro-brasileiras, a unidade na diversidade. Não há um comprometimento da liberdade da construção epistemológica ou metodológica. Podemos entender este processo, de acordo com Bourdieu, como sendo um sistema de rede.
As religiões afro-brasileiras apresentam uma fluidez das identidades das diversas escolas que as compõem. Podemos dizer que são instâncias abertas, ou melhor, processos contínuos de produção de significados e de práticas de narração.
Em franco diálogo com o exposto, nossa Instituição tem como objetivo central as atividades religiosas. Contudo, sabemos que o espiritual se manifesta na sociedade, na cultura, na política e na economia. São, no fundo, a mesma realidade, manifesta de forma mais concreta na economia e, proporcionalmente, mais abstrata no espiritual. Agir no social e no cultural com responsabilidade e harmonia aos desígnios do Orixá torna-se, portanto, um meio fundamental para a realização das atividades da OICD. Abaixo, vamos descrever algumas iniciativas neste setor promovido historicamente por nossa Escola Iniciática.
Texto de Mãe Maria Elise Rivas, publicado no livro OICD - Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino: Escola de Iniciação, Vigência 2019, pela Aláfia Editora.
Exposição
Carnaval Cultural: Entre Histórias
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