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Pensando o terreiro

Mucuiú, motumbá, kolofé, saravá, axé,


Pensar o terreiro é pensar a vida e o modo de estar nela, bem como as relações com o mundo espiritual, mas também a nossa relação com o universo biopsicossocial. O espaço terreiro é um local por excelência de formação, e esta não pode ser entendida como algo pontual afeto àquele espaço físico.

Nós, pais e mães de santo, ao fazermos alguém no santo, plantamos o Orixá em sua “cabeça”, logo colocamos na vida daquela pessoa a força da natureza, mas também a força espiritual. O mesmo ocorre de modo particular, garantindo suas especificidades, em outras religiões afro-brasileiras, que preconizam o processo de iniciação. É um despertar sempre.

Se na qualidade de pais e mães de santo buscamos despertar forças espirituais em nossxs filhxs de santo, é para que se tornem cada dia mais divinos, logo lembrem de sua porção divina adormecida, mas isto não se dá de modo apartado da sociedade. Não podemos fazer filhxs que pensem única e exclusivamente em próprio bem-estar, mas sim filhxs que defendam o seu bem-estar e de todxs os seres humanos.

Fazer alguém é fazer alguém melhor do que elx está, bem como fazer alguém capaz de tornar o meio onde vive menos ortodoxo e inflexível. No momento político em que vivemos sempre me pergunto: — Que tipo de pessoas nós, pais e mães de santo, estamos formando, iniciando e capacitando nos terreiros?

Temos responsabilidades na formação destas pessoas, no modo em que entenderão a vida e se comportarão no terreiro e fora dele. As “etiquetas” da vida têm de ser ensinadas. Precisamos formar pessoas solidárias, inclusivas, que tenham sororidade e lutem pelo bem-estar de todxs. Não podemos ser pais e mães de santo que formam pessoas indiferentes ao bem-estar dx outrx, seja no terreiro, na cultura, no social, no político ou no econômico.

Minha escrita me entrega, pois penso na inclusão, em menos preconceito, em tornar as pessoas mais flexíveis e menos fundamentalistas. Isto se dá em minha casa de santo, seja para quem é filhx ou quem é cliente, consulente, assistente... Os fundamentalismos nos levam a sermos corresponsáveis pela indiferença social quanto à discriminação racial, de gênero, geracional, de classe, na educação, entre tantas outras.

Sou sensível às ideias disseminadas pela política/ economia que deixarão milhares de pessoas desprovidas de dignidade humana. Seremos nós, pais e mães de santo, meros espectadores das dores que assolam a nossa sociedade? Somos pais e mães de santo que defendemos estes movimentos que levarão ao aumento do abismo da desigualdade social? Somos pais e mães de santo que defendemos que devemos nos preocupar única e exclusivamente cada um comigo e com os “meus”? Somos pais e mães de santo que deixamos de falar que o mundo do Orixá defende a todxs indistintamente?

Nós, pais e mães de santo, temos de atentar para nossa responsabilidade na manutenção ou não da miséria em todos os níveis – espiritual, cultural, social, política e econômica –, isto é uma ação da qual não podemos nos eximir estando em uma religião que é de minorias. Será que podemos ser minoria defendendo quem deseja massacrá-la?

Temos, pais e mães de santo, de contribuir para a visibilidade das desigualdades. Para despertar um sentimento de sororidade.


Mãe Maria Elise Rivas

Íyá Bê Ty Ogodô

Mestra Yamaracyê

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