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Carta aberta ao Povo de Santo

Itanhaém, 24 de julho de 2020.

Mucuiú, motumbá, kolofé, saravá, axé, salve, salve,

Estamos na véspera do Dia da Mulher Negra (instituído pela Lei nº 12.987/2014), data, entre outras, necessária para a reflexão e ação no reconhecimento da dívida sócio-histórica com a população negra. Pois o preconceito da cor se estendeu para tudo que dela provém, atingindo a cultura, os valores, enfim, o espírito oriundo da herança africana.

Embora não seja preta nem índia, minha vida é afro-ameríndia-brasileira e descende do legado africano e ameríndio, pois sou Mãe de Santo das religiões afro-brasileira e devedora destes povos. Íyá Bê Ty Ogodô no Candomblé, Mestra Yamaracyê nas Umbandas (sendo Mestra-Raiz da Umbanda Esotérica ou Iniciática), bem como nas Encantarias.

Por ser quem sou, e em virtude de meu lugar de mundo, recebi nesta semana, aqui nesta página pública e oficial da OICD – Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino, ataques vis, com vocabulário chulo, notadamente misógino, calcados na intolerância religiosa e racismo religioso, com a associação do sacerdócio nas religiões afro-brasileiros a charlatanismo e vagabundagem, resquício de pensamento do século XIX, que então motivava até mesmo prescrições legais.

Qualquer ataque voltado a uma Casa de Axé ou à pessoa de sua dirigente ou seu dirigente é uma violência contra as religiões afro-brasileiras, contra todo o nosso Povo de Santo. Dessa forma, meus filhos, minhas filhas, meus netos e netas de santo, assim como pessoas que nos conhecem pela internet ou que frequentam nossas casas, sentiram-se aviltados na sua dignidade de pessoa humana. Nossa filha Leila, de Brasília, sacerdotisa e dirigente de Casa a nós filiada, também realizou Boletim na Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência – Decrin (https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2020/07/24/interna_cidadesdf,874967/entidade-umbandista-do-df-sofre-ataque-virtual-nunca-vou-respeitar.shtml?fbclid=IwAR3hq64_mmYhNzHubQb_mMmqgqEFyFFEDXZZvWz4TnHdvDObjQm9yAV4mc4).

Ressaltamos também a solidariedade de outros sacerdotes e sacerdotisas, pais e mãe de santo, que também divulgaram notas de repúdio. Trata-se de uma manifestação de solidariedade e união, tão em falta em outros aspectos sociais, mas característica determinante do povo de axé.

Não podemos aceitar qualquer manifestação preconceituosa, intolerante e racista contra nossas Casas de Axé, contra pais e mães de santo, adeptos e adeptas. Há delegacias especializadas e devemos sempre pressionar o poder público em busca de nossos direitos, conquistados à base de muitas lutas.

Dessa forma, encerro esta carta agradecendo mais uma vez a todos e todas que se integram a nossa causa de combate aos preconceitos, à intolerância religiosa, ao racismo, à LGBTQ+fobia e indico, no Estado de São Paulo, um canal próprio e rápido para a denúncia desses crimes, qual seja: a Secretaria da Justiça e Cidadania: https://justica.sp.gov.br/index.php/contato/denuncia-online/

Em âmbito federal, existe o canal Disque 100, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos: basta discar 100, em qualquer horário, para registrar sua denúncia . Também é possível registrar a violação desses direitos on-line, em: https://ouvidoria.mdh.gov.br/

Não aceite a violência: denuncie.

Mãe Maria Elise Rivas

Íyá Bê Ty Ogodô

Mestra Yamaracyê

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