A memória reforça o sentimento de identidade. Logo, falar em memória das heranças africanas em solo brasileiro é também falar da constituição da identidade da maioria do povo brasileiro, senão da sua totalidade. A memória e a identidade nos levam à consideração dos limites psíquicos, afetivos, físicos e pessoais, assim como de pertencimento a um determinado grupo, portanto invocam e evocam a memória de nossa ancestralidade. A memória e a identidade africana(s) são pensadas/sentidas a partir do grupo onde nos inserimos, e por consequência pode ser aceita, esmaecida ou refutada. A memória e a identidade não são um patrimônio dado, e sim negociado no dia a dia, no cotidiano, mediante disputa de valores e conflitos sociais entre grupos distintos seja no âmbito econômico, político, social, cultural ou espiritual. Elas, identidade e memória africanas, passam por várias contendas diversas. Evoco neste momento Pollak (1989), ao dizer que pensar memória é pensar identidade e pensar memória/identidade é pensar concepção política sobre o processo de construção social da memória. Desta concepção política da memória é que ele desenvolve os conceitos sobre o enquadramento da memória, esquecimento e silêncio. A memória negra foi enquadrara, esquecida e silenciada.
No texto Memória, esquecimento, silêncio (1989), Pollak coloca o conceito de memórias subterrâneas em oposição a uma memória oficial, entendida como memória nacional. A memória oficial brasileira é branca e europeia, embora tenha utilizado e muito da memória e identidade africana. Entre muitos dos exemplos cito a eleição da feijoada, oriunda dos terreiros – comida de Ogum – como comida típica brasileira, o samba de origem angola também se tornou música nacional. As minorias, os excluídos e os marginalizados, ou seja, as culturas minoritárias e dominadas, em nosso caso a negra, contribuíram amplamente com a memória e identidade brasileiras. Neste momento os terreiros ganham relevância, pois contribuíram e contribuem sobremaneira para a preservação da memória africana, que tanto quiseram silenciar. Sou gente de terreiro!!! Sou gente que respeita a memória africana.
Mãe Maria Elise Rivas
Íyá Bê Ty Ogodô
Mestra Yamaracyê
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